O ponto de viga Ponto Novo, no
Pinhal do Rei, foi outrora também designado por alguns como Ponto da Carvoaria.
O facto deve-se a que na zona envolvente do local onde se encontra tenham
existido, noutros tempos, inúmeras carvoarias. A sua existência deve-se à
necessidade de limpeza dos despojos florestais criados durante o desbravar
daquela zona do Pinhal, considerada praticamente floresta virgem em meados de
século XIX por dificuldades de limpeza. Assim, ao transformar tais despojos em
carvão, além de limpar o local, criava-se riqueza com a sua produção,
importante fonte de energia naquela época. Estávamos no século XIX.
Especificando, veja-se o que diz o
“Relatório da Administração Geral das Matas do Reino – Ano económico de
1858-1859” acerca da limpeza daquele local, conhecido como Carrasqueira:
“(…)
A carbonização, que era um
expediente indispensável para dar valor ao combustível, foi um ponto difícil de
tratar, porque nem aqui havia gente que alguma vez em sua vida tivesse feito ou
visto fazer carvão, nem as condições da exploração e especialmente as da
composição do terreno facilitavam esta operação.
Nas circunstâncias já sabidas em que
se acha o Pinhal de Leiria não há conveniência alguma no estabelecimento de
fornos permanentes para carbonizar as matérias lenhosas; e só fixos, estáveis e
para serviço constante poderiam eles ser construídos de matéria e forma recomendadas
pela arte; mas por maior que fosse a utilidade destes nunca chegaria a
equilibrar o ónus das conduções a que sujeitaria as matérias carbonizáveis extraídas
dos pontos afastados. É portanto indispensável acompanhar com os fornos a extracção;
armá-los e demoli-los, e percorrer com estas construções toda a superfície que
se limpa, para carbonizar a matéria lenhosa no lugar onde se extrai. Para a construção
destes fornos é um elemento ponderoso a qualidade do terreno que compõe as suas
paredes, e o do pinhal de Leiria, eminentemente silicioso, desagregando-se pela
acção do calor, cai em areia fina sobre as pilhas do combustível, apaga o fogo,
retarda a operação e em tais contrariedades impede às vezes a perfeita
combustão de algumas, posto que pequenas, partes do lenhoso.
Os operários do Pinhal de Leiria,
que do ofício de carvoeiro tiveram que aprender tudo na observação e prática
desta carvoaria, conseguiram por diferentes tentativas atenuar aquele
inconveniente, e, sem embargo das dificuldades do terreno, obtêm a carbonização
de volumosas fornadas em toda a parte aonde as precisam.
(…)
Pelo que respeita á qualidade do
carvão (…), o público de Lisboa, que dele faz uso, dará testemunho de que não é
inferior ao carvão de sobro que se gasta na capital. É vendido mais barato do
que este, como foi anunciado no Jornal do Comércio, (e) é um bom serviço que as
matas nacionais fazem àquela cidade, concorrendo ao seu mercado com um produto
indispensável na economia doméstica, como é o carvão vegetal, e que ali tem às
vezes crises de uma elevação de preço extraordinária.
Continua a limpeza da Carrasqueira por este processo nos
anos seguintes (…).”
A Carrasqueira
assinalada na Carta Topográfica de 1841
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