Perde-se nos tempos a origem da
transformação de madeira do Pinhal do Rei em carvão. Uma das primeiras
referências a esta actividade encontra-se num texto escrito cerca de 1470, onde
o povo da região se queixava ao Rei D. Afonso V por não lhes ser permitida a
recolha de lenha para carvão em propriedades abandonadas pelos seus donos.
Em 1605, no Regulamento para o
Monteiro-mor, o Rei Filipe II, protegendo o Pinhal contra cortes abusivos não
licenciados, proibia, em todas as matas e coutadas, dentro da sua demarcação, o
fabrico de carvão.
O Marquês de Pombal, no seu
regulamento de 1751, fez referência a esta actividade, autorizando que, para
tal efeito, se retirasse lenha do Pinhal.
Em 1841, na carta topográfica do
Pinhal, feita pelos oficiais da Armada Francisco Maria Pereira da Silva e
Caetano Maria Batalha, existe referência à “Carvoaria”, local dentro do Pinhal
onde se fazia carvão, desconhecendo-se, no entanto, os responsáveis por tal
actividade.
Em 1859, por necessidade de manter o
Pinhal limpo de matos, a Administração das Matas assume a fabrico de carvão
dentro da Mata.
Em 1865, é concedida autorização
para carbonizar lenha dentro do Pinhal à Companhia de Ferro e Carvão de
Portugal. Esta autorização foi concedida mediante algumas condições,
destacando-se fazê-lo unicamente nos locais designados pela Administração e apenas
entre os meses de Outubro a Abril.
Mais tarde, no final do séc. XIX, os
Serviços Florestais acabaram por abandonar esta actividade.
Ressurgiu então nos lugares de Água
Formosa, Carvide e, principalmente, no Pilado, onde teve grande desenvolvimento
por volta dos anos 1920/30, chegando a haver cerca de 60 fornos.
A lenha trazida da Mata era
empilhada até à altura de um metro sobre uma camada de caruma, tendo-se
previamente aberto na terra um pequeno canal. Depois cobria-se tudo com mais
caruma ou mato e, finalmente, areia. A seguir lançava-se o fogo por uma das
entradas do canal e, de imediato, tapava-se deixando o outro lado aberto para
respiro do forno enquanto ia ardendo.
A combustão, lenta e interna, durava
cerca de 4 dias. Durante esse tempo, a vigilância do forno era muito
importante, pois se por um lado o forno se podia apagar, por outro podia abrir
fendas por onde entraria o ar dando-se a queima de toda a lenha em fogo aberto,
o que originaria a perda de todo o carvão.
No fim da combustão era retirada a
areia e recolhido o carvão que era depois ensacado e vendido ao domicílio pelos
centros populacionais da região, Marinha Grande e Vieira de Leiria, entre
outros.
Depois de uma época áurea esta
actividade acabou gradualmente por ir desaparecendo e nos dias de hoje está
praticamente extinta.
A empilhar a lenha
A cobrir a lenha com
mato ou caruma
A cobrir com areia
Forno pronto, já
aceso
Recolha do carvão
Fotografias retiradas
do livro:
Lemos, Paula, Vidas de Carvão – As Carvoeiras do Pinhal do Rei, Leiria:
Imagens & Letras, 2012
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