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Não há fumo sem fogo

            “O acesso às estradas no interior da Mata Nacional poderá vir a ser fechado ao público. De acordo com Álvaro Pereira, presidente da Câmara da Marinha Grande, o município já foi “ameaçado” de que poderiam regressar as “trancas” que em tempos impediram o acesso público às vias que atravessam a mata.
            Na Assembleia Municipal, questionado sobre o mau estado daquelas vias, Álvaro Pereira explicou que o município tentou recentemente que fosse definida qual pode ser a sua ação na melhoria das estradas florestais. “Disseram-nos que não se pode fazer nada”, explicou.
            Sem nunca se referir diretamente ao Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), entidade responsável pela zona florestal, Álvaro Pereira revelou ainda que “já ameaçaram que colocariam de novo as trancas que já existiram”.
            Muito embora sejam frequentes as queixas sobre o mau estado das vias, a verdade é que “para eles as estradas estão boas, pois só querem tirar de lá a madeira”, lamentou ainda o autarca. (…)”
(Excerto do publicado) In: www.regiaodeleiria.pt
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            A notícia já não é nova! Publicada no Jornal Região de Leiria na edição do passado dia 2 de Outubro, editada para online em 13 Outubro e já muito divulgada nas redes sociais na zona da Marinha Grande, esta notícia deixa todos os habitantes do concelho e arredores, amantes e usufrutuários do Pinhal do Rei, preocupados, já que nela se levanta a hipótese do regresso das antigas tranqueiras ao Pinhal.
            Recorde-se que, por volta de 1790, como medida de segurança e ao mesmo tempo controlo de entradas e saídas do Pinhal, o Ministro da Marinha, Martinho de Melo e Castro, mandou abrir uma grande vala com 2 metros de profundidade e 1.5 metros de largura que circundava todo o Pinhal, deixando apenas 4 passagens controladas por guardas. Estes passaram a viver com as suas famílias em casas construídas nesses locais (as casas de guarda). Com o aumento das populações à volta do Pinhal, mais passagens e mais casas de guarda iam sendo criadas e, cerca do ano de 1843, o número de casas de guarda ia em 12 e em 1898 estas eram já 20.
            Em 1857, como reforço do controlo de entradas e saídas do Pinhal, o Administrador José de Melo Gouveia proibiu a circulação de veículos dentro do Pinhal, depois do Sol-posto. Para isso, mandou colocar tranqueiras (vigas de madeira fechadas a cadeado) em todas as passagens, colocadas pelos guardas ao Pôr-do-Sol e só retiradas ao nascer do dia seguinte.
            Em 1926, a jurisdição das praias de S. Pedro de Moel e da Vieira passou para a Câmara Municipal da Marinha Grande. Foi por isso retirada a tranqueira da Guarda Nova, permitindo a passagem de veículos tanto de dia como de noite mantendo-se, no entanto, a proibição de saída de quaisquer produtos do Pinhal depois do Sol-posto. Em 1969 foi retirada a tranqueira de Água Formosa e, mais tarde, numa evolução natural, as tranqueiras foram sendo eliminadas, tendo sido retiradas definitivamente em 1975 com a liberalização do trânsito dentro do Pinhal.
            Ora, dizem os mais idosos que no fim do mundo se haveriam de ver coisas de admirar. De facto, voltar a uma situação de fecho de estradas no interior da Mata equivaleria a um retrocesso de cerca de meio século.
            Se, no Século XIX, se teve de recorrer ao fecho da Mata como medida de segurança, evitando roubos e abusos por parte das populações, já que todos necessitavam de madeira e outros produtos do Pinhal para uso nas suas lavouras, não vejo, nos dias de hoje, necessidade de voltar a fechar as estradas da Mata. Porém, neste País, já quase nada nos surpreende, ainda mais que não foi ainda há muito tempo que se alvitrou a hipótese do Pinhal do Rei vir a ser explorado por entidades privadas.
            Costuma-se também dizer que não há fumo sem fogo, mas uma medida desta natureza terá o repúdio de toda a população marinhense e de todos os amigos do Pinhal do Rei.

Controlo de carradas à saída do Pinhal em Pedreanes - anos 50 do séc. XX

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