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O ciclone de 19/01/2013 no Pinhal do Rei

            No passado dia 19 de Janeiro, o Pinhal do Rei, bem como todo o território de Portugal Continental, foi atingido por um fenómeno meteorológico adverso, caracterizado por uma depressão cavada com ventos ciclónicos na ordem dos 130 km/h, o que não só originou a queda de milhares de árvores por todo o Pinhal, aqui e ali, mas também o desaparecimento de talhões inteiros de arvoredo em alto-fuste, alguns por tombo, outros porque, inexplicavelmente, as árvores foram literalmente decepadas a poucos metros do solo por alguma força incontrolável da Natureza.
            Desta situação refira-se que o arvoredo que mais sofreu foi, naturalmente, o de maior porte ou longevidade, havendo a registar o desaparecimento no talhão 273, junto à antiga Casa-de-guarda do Rio Tinto, de um conjunto de pinheiros de grande porte, com idades à volta dos 180 anos, entre os quais estava aquele que, com os seus 200 anos, era já classificado como árvore de interesse público e o maior pinheiro-bravo do país.
            Desapareceram ainda mais dois pinheiros-bravos classificados de interesse público: um perto do Ponto de Vigia do Facho e outro perto do Tromelgo.
            No Parque do Engenho também foi derrubado um eucalipto centenário que, na sua queda para o exterior do parque, destruiu parte do muro que circunda o parque desde o tempo do tempo do Marquês de Pombal, mesmo junto ao portão de entrada. No exterior do parque, junto ao portão, há a registar ainda a queda de mais duas árvores de médio porte.
            Mas foi no interior do Pinhal que toda a situação piorou, havendo locais onde a devastação foi de tal ordem que nem a pé se conseguia passar, tal era a quantidade de árvores tombadas sobre os caminhos, aceiros, arrifes e estradas, onde nem o asfalto era visível, e o pavimento, coberto de tal quantidade de lixo e detritos de toda a espécie, mais parecia um remoto lugar de uma qualquer mata virgem ainda por desbravar.
            De tudo o que vi, os locais mais afectados, onde o cenário era catastrófico foram: Pedreanes, talhões limítrofes à estrada nacional Marinha Grande-Vieira de Leiria, talhões limítrofes à estrada Pedreanes-Salgueira, sítio das Árvores e Ponte Nova.
             No interior da Mata, a grande quantidade de árvores caídas sobre as estradas florestais e o enorme emaranhado em que ficou todo o Pinhal, levará com certeza muitos e muitos dias e resolver e a abrir de novo á circulação toda a rede viária.
            Nas estradas nacionais e municipais a situação foi rapidamente resolvida graças à intervenção de um conjunto de entidades, com a Câmara Municipal e a Protecção Civil à cabeça.
            E agora, depois da catástrofe, o Povo vai aproveitando o que pode, fazendo lembrar os relatos de Arala Pinto acerca do aproveitamento para lenha das braças das copas dos pinheiros abatidos em talhões sujeitos a corte final quando, após o toque da corneta, dado pelo Guarda-florestal, o “formigueiro humano” invadia o talhão em busca do que, dentro da norma, lhe era permitido levar, aquilo que aos Serviços Florestais para nada já servia mas que para o Povo tinha todo o valor e utilidade.
            Desta vez o sinal não foi dado pela corneta do Guarda-florestal, mas sim logo que o imenso temporal amainou e permitiu o avanço sobre o arvoredo derrubado.
            Por todo o lado onde era acessível chegar se ouvia o som dos machados, serrotes e modernas motosserras, manobrados pelo Povo que, na ausência de fiscalização, ia em busca não do que, como em outros tempos, era autorizado pela norma, mas de tudo o que se podia levar, deixando apenas os gigantescos troncos (alto fuste), por não ser fácil a qualquer um transportá-los. Tudo servia para o transporte, e por todo o lado onde passei se viam já carregados, ou em vias disso, furgonetas, bagageiras de automóveis, atrelados, etc.
            A situação caótica em que ficaram algumas zonas do Pinhal faz lembrar os relatos de quem viveu o grande ciclone de 15 de Fevereiro de 1941, onde foram derrubadas 165 000 árvores e desapareceram 2/3 de todo o Pinhal.
            É certo que a própria Natureza se vai automaticamente regenerar, mas, para quem conhece e ama este Pinhal do Rei, ficará sempre a imagem daquelas majestosas árvores que prematuramente sucumbiram pela força da Natureza, e a certeza que, no seu lugar, já não veremos outras de igual porte e longevidade.
            Tenhamos porém a esperança que, desse privilégio, venham um dia a usufruir os nossos vindouros.

Na estrada Pedreanes-Salgueira

Em Pedreanes

Talhões limítrofes à estrada Marinha Grande-Vieira de Leiria

No Parque do Engenho

No talhão 273, junto à antiga Casa-de-guarda do Rio Tinto

Na Ponte Nova

Nas Árvores

No Tromelgo

Comentários

  1. o que é de lamentar é que fazendo eu parte do Povo, procurasse traçar umas brassas secas e tivesse sido impedido de o fazer com o argumento de que tinha sido tudo vendido a madeireiros. Matricula anotada espero não que ninguém me chateie pois nesse caso alguém tera de responder por tonenalas e toneladas de toros que foram retirados bem cedo e sem que se visse qualquer controlo. Enfimm...à portuguesa.

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  2. Impressionante o que aconteceu à nossa Mata.
    Obrigada pelo relato, já não me lembrava da corneta.
    Obrigada a Todas as entidades envolvidas nas operações de socorro. No Domingo, pelas 11h, já consegui ir da Marinha Grande à Vieira .

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  3. Caro JM Gonçalves
    Excelente trabalho de facto eu que até levei com uma Faia Centenária em "cima" e dei uma pequena volta não tinha a ideia da devastação. obrigado
    Vou fazer uma chamada para este pot no meu blog.
    Abraço
    Rodrigo

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