No passado dia 19 de Janeiro, o
Pinhal do Rei, bem como todo o território de Portugal Continental, foi atingido
por um fenómeno meteorológico adverso, caracterizado por uma depressão cavada
com ventos ciclónicos na ordem dos 130 km/h, o que não só originou a queda de
milhares de árvores por todo o Pinhal, aqui e ali, mas também o desaparecimento
de talhões inteiros de arvoredo em alto-fuste, alguns por tombo, outros porque,
inexplicavelmente, as árvores foram literalmente decepadas a poucos metros do
solo por alguma força incontrolável da Natureza.
Desta situação refira-se que o
arvoredo que mais sofreu foi, naturalmente, o de maior porte ou longevidade,
havendo a registar o desaparecimento no talhão 273, junto à antiga
Casa-de-guarda do Rio Tinto, de um conjunto de pinheiros de grande porte, com
idades à volta dos 180 anos, entre os quais estava aquele que, com os seus 200
anos, era já classificado como árvore de interesse público e o maior pinheiro-bravo do país.
Desapareceram ainda mais dois
pinheiros-bravos classificados de interesse público: um perto do Ponto de Vigia do Facho e outro perto do Tromelgo.
No Parque do Engenho também foi
derrubado um eucalipto centenário que, na sua queda para o exterior do parque,
destruiu parte do muro que circunda o parque desde o tempo do tempo do Marquês
de Pombal, mesmo junto ao portão de entrada. No exterior do parque, junto ao
portão, há a registar ainda a queda de mais duas árvores de médio porte.
Mas foi no interior do Pinhal que
toda a situação piorou, havendo locais onde a devastação foi de tal ordem que
nem a pé se conseguia passar, tal era a quantidade de árvores tombadas sobre os
caminhos, aceiros, arrifes e estradas, onde nem o asfalto era visível, e o
pavimento, coberto de tal quantidade de lixo e detritos de toda a espécie, mais
parecia um remoto lugar de uma qualquer mata virgem ainda por desbravar.
De tudo o que vi, os locais mais
afectados, onde o cenário era catastrófico foram: Pedreanes, talhões limítrofes
à estrada nacional Marinha Grande-Vieira de Leiria, talhões limítrofes à
estrada Pedreanes-Salgueira, sítio das Árvores e Ponte Nova.
No interior da Mata, a grande quantidade de
árvores caídas sobre as estradas florestais e o enorme emaranhado em que ficou
todo o Pinhal, levará com certeza muitos e muitos dias e resolver e a abrir de
novo á circulação toda a rede viária.
Nas estradas nacionais e municipais
a situação foi rapidamente resolvida graças à intervenção de um conjunto de
entidades, com a Câmara Municipal e a Protecção Civil à cabeça.
E agora, depois da catástrofe, o
Povo vai aproveitando o que pode, fazendo lembrar os relatos de Arala Pinto
acerca do aproveitamento para lenha das braças das copas dos pinheiros abatidos
em talhões sujeitos a corte final quando, após o toque da corneta, dado pelo
Guarda-florestal, o “formigueiro humano” invadia o talhão em busca do que,
dentro da norma, lhe era permitido levar, aquilo que aos Serviços Florestais
para nada já servia mas que para o Povo tinha todo o valor e utilidade.
Desta vez o sinal não foi dado pela
corneta do Guarda-florestal, mas sim logo que o imenso temporal amainou e
permitiu o avanço sobre o arvoredo derrubado.
Por todo o lado onde era acessível
chegar se ouvia o som dos machados, serrotes e modernas motosserras, manobrados
pelo Povo que, na ausência de fiscalização, ia em busca não do que, como em outros
tempos, era autorizado pela norma, mas de tudo o que se podia levar, deixando
apenas os gigantescos troncos (alto fuste), por não ser fácil a qualquer um
transportá-los. Tudo servia para o transporte, e por todo o lado onde passei se
viam já carregados, ou em vias disso, furgonetas, bagageiras de automóveis,
atrelados, etc.
A situação caótica em que ficaram
algumas zonas do Pinhal faz lembrar os relatos de quem viveu o grande ciclone de 15 de Fevereiro de 1941, onde foram derrubadas 165 000 árvores e desapareceram
2/3 de todo o Pinhal.
É certo que a própria Natureza se
vai automaticamente regenerar, mas, para quem conhece e ama este Pinhal do Rei,
ficará sempre a imagem daquelas majestosas árvores que prematuramente
sucumbiram pela força da Natureza, e a certeza que, no seu lugar, já não
veremos outras de igual porte e longevidade.
Tenhamos porém a esperança que,
desse privilégio, venham um dia a usufruir os nossos vindouros.
Na estrada Pedreanes-Salgueira
Em Pedreanes
Talhões limítrofes à estrada Marinha Grande-Vieira de Leiria
No Parque do Engenho
No talhão 273, junto à antiga Casa-de-guarda do Rio Tinto
Na Ponte Nova
Nas Árvores
No Tromelgo
o que é de lamentar é que fazendo eu parte do Povo, procurasse traçar umas brassas secas e tivesse sido impedido de o fazer com o argumento de que tinha sido tudo vendido a madeireiros. Matricula anotada espero não que ninguém me chateie pois nesse caso alguém tera de responder por tonenalas e toneladas de toros que foram retirados bem cedo e sem que se visse qualquer controlo. Enfimm...à portuguesa.
ResponderEliminarImpressionante o que aconteceu à nossa Mata.
ResponderEliminarObrigada pelo relato, já não me lembrava da corneta.
Obrigada a Todas as entidades envolvidas nas operações de socorro. No Domingo, pelas 11h, já consegui ir da Marinha Grande à Vieira .
Caro JM Gonçalves
ResponderEliminarExcelente trabalho de facto eu que até levei com uma Faia Centenária em "cima" e dei uma pequena volta não tinha a ideia da devastação. obrigado
Vou fazer uma chamada para este pot no meu blog.
Abraço
Rodrigo