Em 1993, Francisco Oneto Nunes, em
“Vieira da Leiria – A História, O Trabalho, A Cultura”, no capítulo VII – “A
Doença, a Crença, o Sobrenatural…”, relata algumas histórias que lhe foram
contadas durante a sua permanência na Vieira, sendo que, como refere, «todos
estes materiais – crenças, orações, práticas mágicas, etc. – que agora (1993)
se trazem a público, fazem parte do património cultural da freguesia da Vieira
de Leiria e merecem o melhor respeito.».
Num desses relatos a Sra. Júlia
Carriça, de 77 anos, depois de já ter avançado com duas histórias de bruxaria,
conta mais uma, que, supostamente, teria acontecido no Ponto de Vigia da Crastinha.
Embora o Português, escrito, não
seja o melhor, talvez o autor tivesse querido aproximar a escrita do relato
oral, achei curiosa a história e, no dia de hoje, e porque se desenrola no
Pinhal, decidi publicá-la.
«– Então havia aí outra que também
tinha a fama de ser bruxa – até o homem esteve algum tempo na América, e ela
teve a fama de ir levar as berendeiras ao homem à América… Mas havia uns
sujeitos, que eram guardas, que no Verão faziam guardas nos pontos, por causa
dos fogos. E ele estava no ponto da Crastinha, mais dois, lá para o sul, para o
Cabo do Mato… Era no Verão, que era o tempo dos fogos, e aquilo era por turnos
– agora estava um, e o outro vinha dormir… até que calhou esse ir para cima
para o ponto e o outro vir para baixo (em baixo tinham uma casa onde eles
dormiam…). Ele ia a subir, e quando chegava a meio encontrava-se cá em baixo.
Depois, tornava outra vez a subir, chegava a meio e aparecia outra vez cá em
baixo.
– “Mau!... aqui há coisa, mas eu
hei-de descobrir o que é!” Depois tornava a subir, chegava a meio, outra vez cá
em baixo. Ele procurava, procurava, e não encontrava nada. Mas tantas vezes
aquilo foi acontecendo, que um dia ele estava sozinho e aquilo aconteceu-lhe
novamente – aparecia cá em baixo. Ele vasculhou, vasculhou, e encontrou-a atrás
da porta; encontrou essa mulher que tinha fama de ser bruxa. O que lhe disse,
não sei. Sei que ela lhe pediu para ele a não descobrir, porque se ele a
descobrisse ela atirava com ele do ponto abaixo. E ele não a nomeou, mas
contava muitas vezes o que lhe tinha acontecido: ele depois diz que a viu vir,
com aquela luz acesa direita aqui à Vieira… a voar!... que elas voam por artes
do diabo…».
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