Existem referências de que já na
segunda década do século XVIII existia na Marinha Grande a Fábrica da Madeira.
De início esta fábrica laborava com recurso à serragem braçal das madeiras mas,
em 1724, com a entrada em funcionamento de um engenho de serrar movido a vento,
a sua laboração foi melhorada.
Foi o Rei D. João V quem, por volta
de 1723, tentando resolver o problema da serragem das madeiras, comprou e
mandou instalar na Marinha Grande este engenho de serrar movido a vento. Porém,
devido a deficiências no seu mecanismo, este engenho foi destruído em 1774 por
um incêndio provocado pelo atrito e nunca mais foi reconstruído.
O período após o desaparecimento do
engenho de serrar movido a energia eólica, cujas referências são escassas,
deverá ter sido de continuação da Fábrica da Madeira, com a serragem manual das
madeiras do Pinhal do Rei.
Em 1788, Philadelphia Stephens (irmã
de Guilherme Stephens) no relato que faz da visita real à Marinha Grande afirma
que, a 1 de Julho, depois de uma visita a Leiria, “(…) O Príncipe (D. José) e o
seu irmão deixaram Leiria algum tempo antes da Rainha (…) montaram os seus
cavalos e foram ver a Fábrica da Madeira (Engenho) e a Floresta, que ficam
perto da nossa casa (…)”.
Já depois das Invasões Francesas,
que tudo destruíram dentro do recinto do Engenho, havia de novo grande azáfama
na Fábrica da Madeira, pois, segundo Brito Aranha, escritor, jornalista e
bibliógrafo português, nas Memorias Histórico-Estatísticas de algumas villas e
povoações de Portugal, publicadas em 1871, já “(…) Em 1812 esta officina, que
então não tinha motor a vapor e em que se compreendia a fábrica resinosa, tinha
o seguinte pessoal: 1 administrador, 1 juiz conservador (fiscal), 37
serradores, 29 carpinteiros e 47 pegueiros (trabalhadores que faziam as achas
para os fornos do pez). Estavam então no serviço d’ella 140 carros de
transporte”. Estes números, de 1812, são também descritos pelo Visconde de
Balsemão em 1815, e deverão ter sido a fonte de Brito Aranha, que só escreve em
1871.
Num documento de Abril de 1813
diz-se o seguinte: "Os francezes destruiram inteiramente a Fábrica da
Madeira, e só deixaram intactos os seus muros (…). A despeza dos engenhos de
serrar Madeira julgo ser piquena, porque existem as suas Ferragens e as rodas
necessárias aos sobre dittos Engenhos, podem ser feitas no Arsenal Real da
Marinha aonde tudo se faz com munta perfeição.".
Ora, na primeira parte deste
documento, quando se fala da destruição provocada pelos franceses, fala-se,
certamente, do que ainda restava das serrações manuais que ainda funcionavam
entre os muros da Fábrica da Madeira. Por outro lado, quando se fala na pouca
despesa e aparente facilidade de reconstrução dos engenhos de serrar, creio
estarem já a referir-se aos engenhos de serrar movidos a força hídrica que
existiam no interior do Pinhal, Ponte Nova e S. Pedro de Moel.
Acerca da serração situada na Ponte
Nova, à beira do ribeiro, sabe-se, por indicação na Planta do Edificado na
Ponte Nova, desenhada por Joaquim de Oliveira em 1807, que este engenho foi
destruído por um incêndio em 1806. No entanto, há informação de que este
engenho terá sido incendiado e destruído novamente durante as Invasões
Francesas, o que leva a crer que após o incêndio de 1806 este engenho tenha
sido reconstruído. Assim sendo, este documento, de 1813, parece referir-se à
sua destruição pelo fogo posto pelos franceses, ficando “as suas Ferragens”
que, por serem de ferro, não arderam. E quanto às rodas, creio referirem-se às
rodas de pás (tipo azenha) que faziam mover o engenho e que, por serem de
madeira, teriam ardido mas que podiam “(…) ser feitas no Arsenal Real da
Marinha aonde tudo se faz com munta perfeição."
Em Agosto do mesmo ano é o próprio
D. João VI que, em ofício aos responsáveis do Pinhal, manda que se informe “(…)
por esta Secretaria de Estado, com toda a brevidade possível, se seria difícil
restabelecer novamente os Engenhos de Serrar, em S. Pedro de Moel, e no
interior do Pinhal (Ponte Nova); e a quanto montará esta despeza.”.
Assim, é possível, e isto é apenas
uma suposição, que, à data deste documento, e desaparecido já o engenho de
serrar movido a energia eólica, a Fábrica da Madeira da Marinha Grande
englobasse os serviços descentralizados dos engenhos de serrar movidos a força
hídrica instalados no interior do Pinhal do Rei, na Ponte Nova e S. Pedro de
Moel.
Depreende-se portanto que, com maior ou menor
intensidade, a Fábrica da Madeira continuava a laborar, desconhecendo-se se
resistiu até à chegada da máquina a vapor, quando, por volta de 1870, se montou
a Serração Mecânica no Engenho. Porém, em 1843, na Memória sobre o Pinhal
Nacional de Leiria, suas madeiras e produtos resinosos, de Francisco Maria
Pereira da Silva e Caetano Maria Batalha, já não há qualquer referência a esta
fábrica, nem aos engenhos de serrar movidos a força hídrica, o que leva a crer
que a tentativa de reconstruir tais engenhos não se tenha concretizado e que
até a própria Fábrica já não existisse.
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