Ao percorrermos as imediações da
orla marítima do Pinhal do Rei, encontramos os imponentes pinheiros-bravos
rastejantes, também conhecidos por pinheiros serpente, que a elevada salinidade
proveniente da costa, impelida pelos ventos, impede o normal crescimento das
suas gemas terminais mais novas, prejudicando-os no seu crescimento e
obrigando-os a rastejar, tomando bizarras formas encurvadas.
Referindo-se a estes curiosos
pinheiros, o Engº Arala Pinto, chefe da Circunscrição Florestal da Marinha
Grande entre 1927 e 1956, escreveu, em 1938, no seu livro “Pinhal do Rei”:
"Esses pinheiros, pioneiros do
litoral, formando os batalhões, são a
guarda avançada, os sacrificados, […], a bem dos seus irmãos já distantes do
mar. A sua missão consiste na segurança das areias e poderão vir a dar lenhas,
resinas, peças para carroçarias, mas nunca se deverão abater senão em pequenas
parcelas, em cortes […] (…rasos em pequenas superfícies, máximo um hectare),
como os que se praticaram no Pinhal de Leiria, com bons resultados, mas estes
mesmos a um mínimo de 500 m da linha das marés."
Em 1940, Afonso Lopes Vieira em “Onde
a terra se acaba e o mar começa” escreve um poema aos pinheiros serpente
(pinheiros das dunas):
Aos Pinheiros nas
Dunas
O que a vida fez
de vocês,
velhos pinheiros da
minha infância,
árvores de ânsia!…
O que a crueza de mil
invernos,
as tormentas todas
esguedelhadas
de vendavais
de inferno,
fizeram desses corpos
de tortura
e de aflição,
- que tanto ansiais
por fugir desse chão!
Em pequeno metíeis-me
medo;
minha Mãe ria e dizia
- Medroso! -
Que querem? Vocês
faziam-me nervoso;
e só muito mais
tarde, meus amigos,
deixei de vos olhar
como a perigos,
como a cobras de
horror;
só mais tarde entendi
vosso segredo
e compreendi a
trágica beleza
da vossa dor!
Ó marinheiros
pinheiros,
gageiros da
tempestade!
Náufragos arrojados
à duna! Cristos
pregados
na areia que vos tem
crucificados:
- fazeis-me dor e
saudade,
a saudade de mim, a
mais cruel,
meus pinheiros de
Moel!
A saudade do tempo
em que vos eu temia,
porque, inocente,
ainda não sabia,
ó trágico-marítimos!,
que sofreis e suais
e morreis de guardar
a floresta que vive e
reverdece
e cresce
à sombra desse lento
agonizar!
O que a vida fez
de vocês,
velhos amigos da
minha infância
que eu amo como avós.
Como tudo vai longe
na distância…
Amigos, o que a vida
faz de nós!…
A. L. Vieira
Pinheiro serpente
junto à praia das Pedras Negras
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